domingo, 10 de outubro de 2010

Pra falá serto em Bioconbustivels

Ontem a noite, sintonizando a transmissão de uma das mais ouvidas rádios jornalísticas que temos nas frequências belorizontinas, acabei por ouvir a entrevista de um tal "especialista" em biocombustíveis dizendo que "o diesel derivado do petróleo gera mais de 3kg de gás carbônico após a queima", o que ele usava como justificativa para o uso do biodiesel que DEVE ser, em breve (digamos em termos de décadas), modificado para conter cerca de 20% de derivados de plantas oleaginosas. Tá. Os biocombustíveis são mesmo uma grande esperança para a redução da poluição, mas algumas coisas sobre essa reportagem devem ser corrigidas.

Primeiro, vamos fazer uma conta estequiométrica para ver se, realmente, 1,0L de diesel geraria mesmo os 3kg de COmas, para isso, primeiro façamos algumas considerações. A primeira é que, como derivado do petróleo, o diesel deve conter em sua fórmula vários hidrocarbonetos, HC - compostos apenas por átomos de hidrogênio e carbono - com restrito ponto de ebulição como mostra na tabela abaixo. Aquela mistura que entra em ebulição em torno de 270 graus Celsius contém HC´s de 14 a 20 átomos de carbono. Tomando como base um deles, apenas o C16H34 (conhecido na engenharia como cetano e quimicamente como o hexadecano), passemos à matemática. 

De densidade igual a 0,77g/mL, um litro deste composto tem 770g. Como 1mol deste composto tem 226,5g, 1 litro de diesel (com 770g) apresenta 3,4mol que, corretamente oxidados a CO2 , gerariam 54,4mol deste gás. Como cada mol de gás carbônico tem 44g de massa, todo esse produto teria a massa de 2.293,3g, ou aprox. 2,3kg. Portanto, ficam aí 700g do poluente por conta do especialista entrevistado pela rádio.

Mas podemos fazer correções em nossa conta acima pois o HC considerado foi tomado como único componente do diesel. Mesmo assim, os dados apontados pelo entrevistado não são confiáveis. A maior revolução que nos apresentam os biocombustíveis são sua possibilidade de renovação e, mais ainda, o fato de serem produtos livres de outro elemento, o enxofre, S (veja índice deste elemento presente no diesel na tabela abaixo, tirada do excelente site http://www.biodieselecooleo.com.br/biodiesel/estudos/biocombustivel%20alternativo.htm), que faz parte da mistura de HC´s do petróleo. Na gasolina ou no diesel, este composto entra junto com os derivados de carbono no motor do carro e também geram produtos de oxidação. Estes óxidos de enxofre podem agora, livres na atmosfera, combinar-se com água e retornar ao solo na forma de chuvas ácidas.
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Finalmente, como combustíveis renováveis, entendamos que o biodiesel e também o etanol (o principal biocombustível nacional que muitos esquecem que ele derive de uma planta!!) têm maior apelo industrial e econômico por poder ser sempre obtido a partir de uma rota que envolve a plantação de uma espécie vegetal (soja, para exemplo do biodiesel), a transformação de seu produto em combustível comercial (a transesterificação para os óleos vegetais e a fermentação dos açúcares para o etanol), sua purificação e mistura ao combustível original derivado do petróleo (ou de seu uso puro como no etanol) até chegar ao motor do nosso carro que gera energia a partir da combustão destes compostos. Esta combustão gera o famigerado  que então pode ser absorvido por uma das plantas citadas acima e reiniciar o processo. Ufa, toda esta volta foi para ler o que se descreve na figura a seguir:

Enfim, fica a crítica para os meios de comunicação que tratam de jornalismo científico, que analisem e critiquem aquilo que será veiculado ao público, nem sempre informações corretas chegam aos nossos ouvidos

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