domingo, 28 de fevereiro de 2010

De volta às Cavernas

Estamos de volta às cavernas... um bom enredo para o próximo carnaval: Na comissão de frente, Peter Lund abre a "caixa de pandora" espeleológica. Preguiças gigantes, mastodontes e tigres-dente-de-sabre levantam o povo na Avenida. O carro alegórico seguinte traz uma réplica da gruta do Diabo do sul de São Paulo com o apelo para o místico, logo após, para aliviar tensões com a igreja católica, o carnavalesco faz uma homenagem à gruta de Fátima, de Portugal, com a Ala das Baianas de santas. O destaque lá no alto, cheio de plumas e paetês imita um espeleólogo, com os enfeites todos sujos de lama. A bateria vem no ritmo, iluminada pela Madrinha com um macacão violeta, capacete e até um ecleráge bem coladinhos ao corpo de onde uma luz ultra-violeta emanam raios que fazem os dentes brancos do cara do pandeiro brilharem até ofuscar o pobre mestre-sala, cansado de tanto ensaio para simular, sambando, a passagem por um conduto daquele tipo 'quebra-corpo'.

Ufa, terminei minha viagem de escola de samba para finalmente, na Quaresma, poder voltar a falar sério. O título que me inspirou - e que sirva também de sugestão para o carnavalesco da Unidos da Tijuca para 2011 - tem mais a ver com a necessidade que temos de nos proteger.

Explicando: na Europa, os indícios de habitação em grutas/cavernas é muito bem relatado. pinturas rupestres no interior de Lascaux (http://www.lascaux.culture.fr/ um site fantástico!) e estruturas de habitação em Portugal mostram que os hominídeos deveriam habitar mesmo os interiores mais sombrios. Daí o termo tão divulgado nas nossas aulas de pré-história, o dos "Homens das Cavernas".

Só não imagine que um cara como este daí de cima tenha existido aqui pelo nosso país, não pelo que nos mostram os estudos arqueológicos que indicam que os nossos "paleo-índios" deviam estar sim em abrigos como as atuais ocas, bem mais frescas, que traria um conforto térmico maior, coisa que não ocorre na Europa com seus rigorosos invernos.

Voltando, finalmente às cavernas, nossas construções civis baseadas em concreto nos dão o mesmo conforto. Um abrigo para a proteção do vento, da chuva e de invasores indesejados (a não ser que sejam baratas como as que infestam minha casa que tem acesso livre por todos os cômodos) que tem a mesma composição química das grutas francesas ou mesmo daquelas várias que em Minas Gerais, Bahia ou Piauí, por exemplo, foram abrigos temporários ou nas quais rituais de caça, como acreditam alguns, eram descritos em grandes extensões de paredões.

Encare como misticismo ou como arqueo-pixação, as pinturas rupestres indicam um passado de maior equilíbrio entre o homem e a natureza. Malditas mesmo são só as baratas!!!!



sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Em todo Lugar

Pois bem, como eu tinha adiantado na última postagem, vai aqui uma nova sobre espeleotemas não tão assim bem "spelaionhosos"!

Das minhas andanças pelo mundo, algumas formas me chamam atenção pelas suas semelhanças com aquilo que vemos no interior de cavernas <> aquilo que vejo no interior de cavernas me faz chamar a atenção para formas que vejo no mundo afora por onde ando. E antes que você desista deste Blog pelo fato do mesmo parecer uma música do Engenheiros do Havaí, deixe-me explicar.

A formação dos espeleotemas, na maioria das vezes, é devido a ação da água fluida. Acontece que a água fluida não é um fenômeno meramente espeleológico pois em qualquer lugar, mesmo sem chuvas, podemos ver a movimentação das águas e com elas alguns materiais que as acompanham. Assim se formam as estalactites, as estalagmites, as cortinas de cavernas, que, no correr das águas, vão vendo aos poucos abandonados os cristais de calcita que os formam.

Logo, reforçando a última postagem, ESPELEOTEMA é o depóstio (THEMA) de cavernas (SPELAION). Mas se encontro uma estalactite fora de uma caverna, ela será um espeleotema? A resposta é simples: sei lá! Só sei que já esbarrei com figuras interessantes como a da foto a seguir. O que mais parece um belíssimo canudo-de-refresco de uma gruta, nada mais é que um canudo-de-refresco em uma escada no prédio da Newton Paiva - Buritis, onde leciono.

Já pude ver outros ainda maiores, de extensão métrica, ao atravessar o viaduto de pedestres da Lagoinha que leva até a rodoviária. Na faixa que leva motoristas do centro ao acesso a Av. Pedro II existem canudos de refresco de até 2 metros. Já ouvi outros relatos de cortinas em garagens (que se deixe claro, cortinas como as de cavernas), estalagmites em fachadas, represas de travertinos de grama em um dia de chuva numa praça.

A própria forma da foto, a da escada, tem conexão no piso com uma pré-estalagmite que só não a frente pois é pisada, varrida e desbastada quase todos os dias. Voltando a "escadactite", chama a atenção ainda da taxa de crescimento da mesma. Ao que me lembro, os funcionários do prédio fazem semestralmente uma limpeza em que arrancam este "escadotema", o que não impede que, seis meses depois, esteja lá o "concretotema" de novo com seus bons 7cm de tamanho. Pena dá de vê-lo arrancado. "havia uma escadactite no meu caminho, no meu caminho havia uma escadactite".



sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Espeleotemas caseiros!

"... ligando agora você ganha ainda uma linda flor-de-calcita!". É. Parece uma propaganda do tipo "Emagreça em casa com ESBELT-in" mas a chamada do título é real. Mas, antes de irmos à mão na massa, vamos a algumas definições.

A palavra ESPELEOTEMA deriva do grego (ou seria o latim??) espelaion = cavernas, tema = depósitos; Esperamos então que estes depósitos em cavidades subterrâneas sejam os mais diversos o possível pois uma caverna pode, por exemplo, ter, no seu interior, um cadáver arrasto por um forte fluxo de água. Os paleontólogos adorariam isto, porém, limitemo-nos aos depósitos minerais, pricipalmente aqueles formados pela (re)cristalização de sais inorgânicos.

São vários os processos que levam a este tipo de deposição. A principal é aquela que ajuda no processo de desenvolvimento das cavernas, da água - rica em sais minerais dissolvidos - penetrando nas fendas de rochas e que, ao evaporar, deixa cristalizados os minerais que até então carregava.

O processo descrito acima, no entanto, não é unico-específico de cavernas (aguardem futuras postagem de espeleotemas artificiais, se é que isso pode assim se definir). Na química, diversos autores descrevem o crescimento, em laboratórios, de cristais a partir de soluções diversas. Uma destas soluções que gera espeleotemas como canudos de refresco, estalactites, estalagmites e até (em um caso único que presenciei) uma helicitite é uma solução super-saturada de sulfato de magnésio em água. O sal citado é o mesmo antigamente receitado para prisões de ventre e vendido comercialmente como "Sal de Epson" nas 'melhores farmácias de sua região'. A descrição mais sucinta deste processo pode ser vista o artigo publicado em um evento da SBE pelo site http://www.sbe.com.br/anais29cbe/29cbe_111-112.pdf

Outro processo, ainda mais simples, é colocar um fragmento de pedra britada de calcário (de aspecto cinza) em vinagre e, por ali, deixá-la por dias. O resultado é o da foto seguinte que surrupiei de um grade amigo o Rogério:


"Faça você também em sua casa" mas controle a perda de vapores da solução, desta forma a formação de cristais será surpreendente. "Não nos responsabilizamos por perdas e danos e em devolvemos seu dinheiro!"